terça-feira, 26 de julho de 2011

Bloody Rhodes - Conto 4 - "Uma Noite no Fanfare II"

- Eu não deveria estar aqui Andrew. – disse Jacob arrependido, enquanto olhava para seu copo de bebida.
- O quê?  - respondeu Andrew, que não entendeu nada, em virtude da música alta.
- Eu disse que não deveria estar aqui! – gritou Jacob, bem na orelha do amigo.
- Qual o seu problema Jacob?Sua namorada te deixou, te deu um pé na bunda, se livrou de você... E você prefere ficar em casa chorando que nem menina ao invés de ficar aqui no bar enchendo a cara e traçando todas as meninas que aparecerem – debochou Andrew levantando o copo e olhando fixamente para um grupo de garotas do outro lado do bar - Tem certeza que você é homem Jake?
- Vai se fuder Andrew!Minha Rachel não me deu um pé na bunda... Ela só disse que queria dar um tempo tá legal?Um tempo! Ela não me traiu nem nada, e ficando aqui eu estou ferindo a confiança que ela tem em mim.
- Humm...sério? – debochou Andy, claramente bêbado.
- Você não entende Andy...nunca teve uma namorada, uma gata legal que se importasse contigo. – respondeu Jacob transtornado.
- Olha o seu tempo ali atrás gostosão! – Andrew aponta para a pista de dança. Jake engole seco. Rachel estava dançando um homem no meio da multidão... Ele torce por alguns segundo para serem só amigos... Mas amigos não se beijam daquele jeito. Amigos não se esfregam daquele jeito... Amigos não colocam as mãos por dentro da saia das amigas.
- Vadia! – gritou Jake, com lágrimas nos olhos, socando o balcão.
- Tá vendo Jay Jay? Eu te disse que “dar um tempo” era código pra “quero dar pra outros caras mais fortes e com carros melhores que o seu” – disse Andy.
- Calaboca Andy! – Jacob se segurou para não acertar um soco no amigo... Ou na vadia.
- Mano, deixa que eu resolvo isso pra você... Oscar! Manda mais duas bebidas pro meu amigo aqui,
O barman se apressa e logo aparece com mais dois copos de vodka para Jake, que vira os dois em questão de segundos. Jake olha uma ultima vez para a pista de dança... Rachel já não está mais visível. Ele pede mais dois copos.
- Sabe do quê mais mano?Você tá certo, num vou ficar aqui chorando as pitangas em por causa daquela puta!Vamo farrear, porra! – bradou Jacob, batendo o copo com força no balcão.
Assim começa a cruzada de Jacob Roberts em busca de uma transa fácil, que ele nem lembrará no dia seguinte por causa das quantidades cavalares de álcool que está ingerindo.Ele passa várias horas sondando as garotas na boate.Andy logo arranja uma disposta a alguma diversão e sai com ela para o estacionamento, para encontrar um lugar mais reservado e, nas palavras do próprio, fazer a noite valer a pena. Jake fica sozinho na caçada, mas não desanima.Depois de vários “nãos”, alguns copos de bebida jogados em seu rosto e um soco nos testículos, Jake finalmente encontra a garota perfeita...ou pelo menos é isso que ele acha.Cabelos castanhos escuros, lisos e curtos, passando um pouco da altura do pescoço; Usava uma calça jeans surrada e uma jaqueta de couro falso, por cima de uma camisa xadrez vermelha.Ele se aproxima da moça, que estava sentada perto da janela, observando o movimento do lado de fora.
- Oi linda. – disse Jacob, completamente bêbado  - eu estava pensando se...
- Não estou interessada... Some daqui. – respondeu a garota, ríspida.
- Não faz assim... Desse jeito você me... - a garota agarra o pescoço de Jake com sua mão direita.
- Machuca? – respondeu a garota, apertando o pescoço de Jake com muita força.
- Humm... Assim você me deixa com tesão – retrucou Jake lambendo os beiços.
Antes de pensar em quebrar os dentes do infeliz, a garota observa algo pela janela. Seus olhos brilham... Ela solta o jovem bêbado e segue em direção a saída do clube...
- Ei!Você não vai fugir de mim tão fácil! – disse Jacob, cambaleando por causa da falta de ar e do álcool.
- Se me seguir, morre. – rebateu a garota mostrando sua Glock 9mm presa a cintura.
- (Glup) pode ir – respondeu o garoto, paralisado.
Jacob vê a garota correndo em direção a porta... A noite acabou para ele. Estava tudo bem levar vinte “nãos” em uma festa repleta de garotas bêbadas e teoricamente fáceis... Mas ser ameaçado de morte, era um pouco demais para ele. O jovem cambaleia até o balcão e pede mais algumas bebidas. Queria esquecer essa noite. Depois de alguns copos, ele encosta a cabeça no balcão e espera sua consciência se esvair. Jake desmaia no balcão.

O chão treme. Os pilares oscilam. A música pára. Os clientes do Fanfare de Sr. Louis olhavam assustados para os lados, sem saber o que estava acontecendo de fato. Mais um tremor, dessa vez vindo junto a um barulho de explosão. A confusão toma conta do lugar. Seria um terremoto talvez?Eles não ficariam lá para descobrir. Todos correm desesperadamente para a saída do clube. Alguns saem ilesos, outros são pisoteados no caminho. Mais um tremor, muito mais forte que o anterior, também acompanhado pelo barulho de explosão. Quando a maior parte dos fregueses sai do Fanfare, Oscar, o barman, sai de debaixo do balcão. Aquele lugar iria abaixo em breve, não era seguro esperar o tremor passar, e agora ele não tinha o risco de ser pisoteado. Quando está saindo, Oscar observa um ultimo cliente ainda deitado com a cabeça encostada no balcão.Ou Jake estava morto, ou estava em coma alcoólico.
- Acorda seu maluco!!O lugar todo vai desabar!Quer morrer? – gritou Oscar desesperadamente.
- Hunf... – resmungou Jacob, confuso demais pra conseguir pronunciar qualquer coisa.
- Vem aqui, se apóia em mim. – disse Oscar tentando levantar Jacob. – Você não vai morrer aqui hoje.
- Obh...gadi – Jake mal conseguia se mexer, quanto mais falar ou andar.
Os dois tentam chegar até a porta. Oscar quase se arrepende de ter ajudado o garoto. Bêbados pesam muito, e se ele estivesse sozinho, já teria saído do prédio. Outra explosão e outro tremor. Jacob e Oscar caem. De repente, o barman vê uma rachadura no chão, e sente pancadas abaixo do solo. Alguma coisa está tentando sair dali debaixo .
O chão se parte. Do buraco, sai uma espécie de morcego gigante cinzento, que cai bem do lado de Oscar e Jake.O barman observa horrorizado o monstro enquanto o jovem bêbado permanece jogado no chão, sem conseguir se mexer.Oscar se aproxima da criatura.Era irreal.O monstro tinha cerca de dois metros e altura, deveria pesar mais de duzentos quilos.Tinha olhos completamente negros e pele cinza e pálida, como a de um cadáver.Possuía dentes e garras muito afiadas e longas.Estava muito machucado e não respirava, possivelmente estava morto.Tinha sete buracos de bala no peito e um na cabeça.Seu braço esquerdo estava quebrado e suas asas, iguais as de um morcego, estavam rasgadas.Todo o corpo estava chamuscado e com marcas de queimaduras.As costelas pareciam estar quebradas, e uma das pernas havia sido arrancada.Completamente sem ação por causa do medo, Oscar não percebe mais dois desses monstros saindo do buraco.Estes, ao contrário do defunto no chão, não estavam tão machucados.E pareciam estar com fome.Um deles avança violentamente no barman tentando morder seu pescoço, mas antes que pudesse  chegar em sua presa, o Caçador Cinzento sente alguém segurando suas asas.Elijah Jackson puxa a criatura pelas asas, e depois a joga com força no chão. Eli pisa na cabeça do monstro, que é completamente esmagada. O segundo Caçador tenta atacar Jackson, que o segura pelo pescoço e o lança em direção ao buraco. Quando está caindo, a criatura é acertada por seis tiros no peito. A pele se rasga e o sangue jorra. Jason Rhodes sai do buraco, coberto de poeira, fuligem e sangue.
- Essa era minha jaqueta favorita... – resmungou Rhodes
- Esse foi o último Caçador Cinzento. Agora falta só o líder.
- Quanto tempo temos até que ele chegue?
- Trinta e quatro segundos a partir de agora.
Jason observa o barman deitado no chão junto ao Jake. Oscar estava atônito.
- O que a gente faz com eles Eli?
- Oscar, se esconda atrás do balcão!LOGO! – A voz de Ely soou com um tambor nos ouvidos de Oscar, que não pensou duas  vezes, correu para atrás do balcão, arrastando Jacob junto.
O silêncio reinou absoluto por um momento, até que uma voz o rasgou.
Brian Johansen, tenente do Padrinho começa a sair do buraco, levitando.
- Você é um rapaz muito escorregadio Elij... – tiros preencheram o salão. Antes que Johansen saísse por completo do buraco, Jason descarregou sua .44 na cabeça do infeliz. Brian Johansen salta furioso na direção de Rhodes, apenas para ser repelido pelo imenso punho de Jackson. Brian é arremessado alguns metros, mas consegue recuperar o equilíbrio e cair de pé. Os oponentes se fitam. Elijah Jackson está ferido, possivelmente não consegue enxergar com o olho esquerdo e seu joelho direito sangra muito. Jason Rhodes está com o braço esquerdo inutilizado e deve ter quebrado quase todas as costelas, além de estar com a metade do seu rosto queimada. Brian Johansen está com o pulso direito quebrado e com o ombro direito deslocado, alem de estar com seis buracos de bala em seu rosto.
- Como eu estava dizendo... Você é muito escorregadio Jackson. – disse Brian olhando fixamente para Rhodes, temendo levar outra rajada de tiros.
- A sua sorte é que eu tenho que recarregar. – resmungou Rhodes enquanto carregava sua Colt. – senão eu ia te meter mais seis tiros na cara, seu viado.
- Eu passei óleo antes de você aparecer Johansen, queria estar gostoso para o nosso momento especial – zombou Elijah.
- A brincadeira acabou aqui seus vermes! – Grita Johansen enquanto uma aura de energia negra se formava a sua volta. Sou corpo começou a se moldar. Sua pele clara se tornou negra como asfalto, seus cabelos longos e loiros ficam brancos e seus olhos azuis, vermelhos. Estacas de osso se formam em seus cotovelos, joelhos e punhos. Assas de morcego crescem de suas costas.Seus músculos dobram de tamanho.
- Odeio vampiros com complexo de desenho japonês... Essas transformações não me intimidam... Babaca. – brincou Rhodes.
- Cuidado com ele Tom... Ele não ia mudar de forma fora da parada gay se isso não tivesse alguma importância – riu Elijah.
- O nome agora é Jason cacet... – Rhodes não teve tempo de responder... Johansen voa em altíssima velocidade acertando com a estaca de seu joelho o estomago de Jason, que grita de dor. Elijah salta e tenta acertar um soco em Brian, que se esquiva sem dificuldade.
- Seu amigo devia aprender a falar menos Elij... – o discurso de Brian é novamente interrompido por uma rajada de balas, dessa vez todas acertam sua boca.
- Cala a boca e luta, Caralho! – Jason se levanta, colocando as tripas pra dentro.
Johansen tenta falar alguma coisa, mas os tiros de Rhodes destroçaram sua mandíbula. Eli se joga contra Brian e lhe aplica um abraço de urso. Jackson sente as costelas do inimigo se quebrarem. Brian lança uma rajada de energia através dos olhos, que vara o peito de Eli, que cai no chão, se contorcendo. Jason puxa uma faca do que restou do casaco e perfura o abdome de Johanson, que urra. Johanson tenta acertá-lo com socos, chutes e rajadas oculares. Alguns golpes ainda acertam Rhodes, mas ele continua cortando e furando incansavelmente. Brian segura o braço esquerdo de Jason fortemente com uma mão, e prende seu pescoço com a outra. Ele puxa o braço, arrancando-o, e dá uma cabeçada no desmembrado Jason Rhodes, que é arremessado cerca de três metros, enquanto o sangue jorra de onde deveria estar seu membro decepado. Jason cai no chão imóvel e sem gritar.
“Esse já era... Só falta o gordo agora” pensou Johansen.Quando Brian olha para frente, Elijah está de pé.O ferimento no peito ainda sangra muito.
- Vem me pegar, coisa feia.
Brian ataca Jackson como um animal selvagem, e acerta duas cotoveladas no peito de sua presa. Elijah não deixa por menos, e castiga brutalmente seu algoz, com socos, cabeçadas e chutes... Mas não é o suficiente. Logo, Elijah cai.
“Missão concluída. Os traidores estão mortos” pensa Brian. “Agora é só dar cabo dos mortais que escondidos atrás do balc...” Johansen se vira pra trás. Elijah levanta e agarra o inimigo pelas costas, imobilizando-o.
- Lição do dia filho da puta – Jason salta com a faca na mão e perfura o olho direito de Brian, que se debate, mas não consegue se libertar de Jackson – NUNCA – Jason perfura o esquerdo. – DÊ AS COSTAS – Jason começa a dilacerar o rosto do inimigo com as presas, enquanto afunda e gira a faca no olho do infeliz– PARA JASON RHODES!! – Jason afunda a faca até seu pulso passar pelo buraco do olho, quebrando o crânio, por conseqüência. – Você pode morrer no processo - Brian se debate por mais alguns segundos, mas logo os espasmos cessam. Ele está morto. Eli solta o corpo e senta no chão. Jason começa a limpar o sangue da cara.
- Minha teoria estava correta... Ele não era tão durão por dentro quanto por fora.
- E o seu braço?
- Depois eu colo ele de volta. E seu olho?
- Ainda tenho o outro... Eu estava pensando em trocar esse mesmo... Tava dando defeito. Qual seu plano agora?
- Você está a salvo por enquanto... A gente arranja um lugar seguro pra você ficar por enquanto, e eu vou atrás do Padrinho e do Ghastey pra me vingar dessa merda toda. Ou você pode viajar comigo...
- Dispenso... Você é charmoso, mas não gosto tanto de você assim... Acho que vou pro meu clube no Texas, lá eu devo estar seguro.
- Tem certeza? – disse Rhodes acariciando o mamilo com o único braço que lhe restava.
- Tenho – Elijah riu.
- Vamos beber pra comemorar então... Oscar, me trás um drink aí – gritou Rhodes, fitando o balcão do barman, enquanto procurava seu braço e sua arma.
O medo tomou conta de Oscar. Ele estava entre monstros. Monstros sanguinários. Certamente eles iam matá-lo se ele não fizesse o que pedem. Tremendo muito, ele pega uma das poucas garrafas inteiras jogadas no chão e dois copos, e anda lentamente até os dois vampiros. Rhodes se aproxima do barman, que se urina.
- Valeu Oscar, mas eu não bebo isso aí – Rhodes sorri e acerta um tiro na cabeça de Oscar, e se lança no pescoço do cadáver. – Vou deixar um pouco pra você Eli.
- Isso não era necessário, eu tenho um depósito de sangue em uma das salas secretas do clube... Certamente alguns sacos devem ter resistido às explosões.
- E como eu ia saber? – debochou Rhodes - O que fazemos com o bêbado ali?
- Deixa ele em paz, com certeza está bêbado demais pra lembrar-se de qualquer coisa que tenha visto aqui... Além disso, Jacob teve um dia difícil hoje.
- Se você diz. – Rhodes se dirigiu até a porta do clube e escuta sirenes – Os bombeiros estão chegando, melhor a gente sumir...
Elijah põe Jake nas costas e se dirige a uma porta secreta. Rhodes segue.
- Isso vai dar no sétimo nível, o abrigo mais abaixo a aquele em que você me encontrou mais cedo. Lá tem sangue e roupas limpas.
- E o corpo dos Caçadores Cinzentos e do Johansen?
- Vai explodir junto com o resto do prédio aqui em cima.
    O elevador desce para o sétimo nível do subsolo, enquanto explosivos levam o que sobrou do Fanfare abaixo. Jason fechou os olhos e escutou o barulho das explosões... Pensou na dificuldade que foi matar Johansen... Pensou no Padrinho, que agora além de saber que ele estava vivo, estaria furioso com a morte de um de seus tenentes... Pensou que tudo isso era apenas o começo... Ele olha pra sua velha Colt .44 e suspira.
- Vou precisar de uma arma maior...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Bloody Rhodes - Conto 3 - "Uma Noite no Fanfare I"

Já era tarde da noite quando Jason Rhodes chegou em Saint Louis, Missouri, e ele estava com um humor péssimo.Dias atrás, Rhodes foi emboscado em Leawood, graças a uma informação falsa dada por um patife chamado Mulligan.A armadilha nem o estressou muito, afinal, tinha sido uma catástrofe. Seja lá quem quisesse ver Jason morto, não contratou capangas o suficiente e os poucos que estavam lá eram muito incompetentes...Rhodes nem mesmo chegou a se esforçar para dar cabo dos patifes...eles duraram doze minutos e vinte balas.Nenhum deles sabia o nome do empregador, só tinham recebido o dinheiro e as ordens por um mensageiro, que estranhamente, nenhum deles conseguiu descrever.Era isso que estressava Rhodes...seu algoz era um homem sem nome, sem face e sem endereço.Mais importante, Mulligan foi instruído a dar a informação falsa...e isso quer dizer que alguém avisou o infeliz que Rhodes ia chegar até ele, ou seja, alguém antecipou seus passos.Ou alguém está vigiando seus passos ou seu informante era um agente duplo.As duas opções faziam o sangue de Jason ferver, porque se alguém está vigiando-o, ele não estaria mais no controle da situação...Jason demorou vinte e dois anos e gastou muito dinheiro para mascarar sua existência nos últimos tempos, e todo esse esforço jogado fora...não soa bem para ele.Por outro lado, se ele foi traído pelo informante,a situação se agrava mais ainda pois, além de ter sua existência desmascarada como na possibilidade anterior, Rhodes teria que matá-lo, possibilidade que Rhodes preferia não pensar.Afinal, Elijah, o informante, foi os olhos e ouvidos de Jason nos últimos quarenta anos, e acima de tudo, era um bom amigo, e Rhodes não tinha muitos amigos.Para piorar a situação, Eli havia ligado para Rhodes exigindo sua presença urgentemente em St. Louis na noite anterior. A ligação tinha sido muito rápida, sem tempo para perguntas. E isso era muito suspeito. Eli é do tipo que gosta muito de conversar.
Rhodes demorou cerca de vinte minutos para ir da entrada da cidade para o Fanfare, uma das muitas casas noturnas pertencentes a Eli nesse lado do país. Jason vai direto para o estacionamento no subsolo. Sua vaga estava vazia, como sempre. Estranhamente, dessa vez não havia seguranças pra escoltá-lo até uma das dezenas de salas que Eli usava como escritórios. Jason ia ter que procurar sozinho. A porta para o elevador também estava trancada... Ainda teria que ir de escada... Muito suspeito. Rhodes desce alguns andares para baixo, testando todas as portas que encontra, tentando achar a certa. De repente, ele escuta um barulho vindo do andar de cima. Automaticamente ele puxa sua Colt Anaconda .44 de dentro do casaco e se esconde nas sombras.Um casal de jovens, possivelmente drogados, aparece testando as portas, afim de encontrar uma destrancada, possivelmente para transar.Eles não viram Jason, logo não são ameaça.Rhodes segue com seu caminho, ainda testando as portas, quando escuta passos vindos de trás.Dessa vez, de uma pessoa apenas.Ele se vira para trás e atira.Ninguém.Pode ter sido impressão...Jason escuta o gritos do casal depois do tiro...com certeza, alguém deve ter broxado.Ele esboça um leve sorriso e segue pelas escadas.
Depois de meia hora, Jason chega ao sexto subsolo. Ele nunca ia imaginar que eram tantos, nunca tinha descido mais que três. Rhodes finalmente encontra uma porta destrancada. Quando ele começa a abrir a porta, ele escuta uma voz vinda de dentro da sala.
- Pode entrar Tom – disse Eli calmamente enquanto tocava habilidosamente um piano no canto da sala – Estava te esperando.
Rhodes entra no aposento, meio desconfiado. A sala estaria vazia se não fosse por Eli e seu piano. Estranho... Jason nunca tinha visto Eli com menos de quatro seguranças e sem um computador próximo.
Elijah Jackson era um homem poderoso quando vivo, e se tornou praticamente rei da cidade quando morreu. O poder desse vampiro não se devia apenas ao seu patrimônio absurdo e influência por todo o oeste do país, mas também ao seu impressionante porte físico. Eli era um negro de 1.97m e pesava pelo menos 150 kg. Além disso, Eli era um dos vampiros mais inteligentes do país, e era um exímio especialista hacker. Para completar, ainda era um músico muito habilidoso.
- Já disse que estou usando o nome de Jason agora... – disse Rhodes meio contrariado – Por que seus seguranças não me escoltaram até aqui? Teria demorado bem menos...
- Seria arriscado demais... – disse Elijah sem parar de tocar o piano.
- Por quê?Eu não mato um segurança seu faz pelo menos trinta anos.
- Não foi pela segurança deles... Foi pela sua...
- Traduza Elijah...  – disse Rhodes, desconfiado.
- Eu soube de sua aventura em Leawood...
- Eu vinha aqui justamente te perguntar sobre isso. – disse Jason, ríspido.
- Sua busca por William Ghastey fez mais barulho do que o previsto... O Padrinho infiltrou alguém na minha organização para tentar descobrir se você ainda estava vivo e quais os seus objetivos. Infelizmente, só descobri isso tarde demais. Sinto muito Tom.
- É Jason, porra... – respondeu Rhodes frustrado – O Padrinho me descobriu...agora fudeu... Mas isso você poderia ter me dito por telefone mesmo, por que exigiu minha presença aqui?Já estava com saudades?
- Isso também – Elijah riu... Jason manteve uma expressão dura – agora o Padrinho sabe que eu trabalho pra você, isso quer dizer que ele deve tentar me matar em breve.
- Humm...Por isso você não está com nenhum segurança... Você sabe que qualquer um que o Padrinho mandar para te matar vai triturar seus gorilas sem nenhum esforço.
- Precisamente.
- E você me chamou aqui por que espera que eu te proteja caso o inimigo seja musculoso demais pra você enfrentar sozinho?
- Exatamente.
- E a sua ligação me convocando foi curta na esperança de que os agentes do Padrinho não te rastreassem, possivelmente por que você forjou que estava em outro dos seus clubes para ganhar tempo.
- Perfeitamente! Quando você ficou tão esperto Tom? – brincou Eli.
- Muito conveniente... E como eu vou saber que você não está mentindo pra mim?Como vou saber se você não se uniu ao Padrinho pra me matar?Minha cabeça vale muito, e o Padrinho não é um filho da puta que você quer como inimigo, eu já te disse do que o maldito é capaz. Ele com certeza te recompensaria muito bem... Se brincar ele ainda te dá à metade do país na qual você ainda não manda – retrucou Rhodes apontando sua Colt para Elijah.
- Acha mesmo que eu te trairia por metade de um país, sabendo que se nosso plano der certo, eu conseguiria muito mais que isso? – respondeu Eli com certo sarcasmo, enquanto dedilhava seu piano.
- Humm...tens razão...o mundo ou nada para a gente – Riu Rhodes, abaixando a arma.
Jackson pára de tocar. O silêncio toma conta do recinto.
- Os filhos da puta já chegaram? – pergunta Rhodes.
Elijah levanta e começa a estralar os dedos.
- Estão no primeiro subsolo agora.
- Quanto tempo nós temos e o que eles são?
- Caçadores Cinzentos... Oito... E são dos grandes, devem chegar em dois minutos...Tem um grandão com aparência humana, deve ser o chefe do bando – disse Elijah folgando a gravata. Rhodes aponta a .44 para a porta.
- Eles vão entrar pela porta?
Os dois vampiros escutam uma explosão.
- As paredes são reforçadas e eles teriam que entrar nas salas do lado, e todas as salas trancadas estão com alguns explosivos. Eles acabaram de errar uma sala..hehe. Eles podem demolir as paredes, mas vai atrasá-los em alguns segundos... E eles estariam atordoados pelas explosões.
- Esse prédio num desaba encima da gente não?
- O pavimento em que estamos é triplamente reforçado... Agüentaria mil explosões dessas antes de cair. – respondeu Jackson.
Mais uma explosão.
- Um deles virou churrasco... Faltam os sete e o líder – informou Eli.
- Esse troço de onisciência te incomoda às vezes?
- Quase sempre... Tem uma boate aqui encima, tem coisas que eu preferia dormir sem saber... Mas nessas horas como agora ajuda bastante... 
     - Imagino...
     - Tom... Posso te fazer uma pergunta antes que a brincadeira comece?
- Diz aí.
- Aquela sua Fatboy 2008 é e essa Colt cano longo são pra compensar a falta de altura? – Zombou Elijah, quase gargalhando.
Rhodes não teve tempo de responder... Os Caçadores Cinzentos adentram violentamente na sala... Bastante chamuscados... E furiosos.
Essa vai ser uma noite barulhenta.

sábado, 4 de junho de 2011

Bloody Rhodes - Conto 2 - "Viva Com Isso"



Eram dez horas da noite quando o pai de Lilian chegou do trabalho. Ele parecia transtornado, algo deve ter acontecido na delegacia. Pela altura da voz e movimentos desengonçados  , o homem deve ter bebido um pouco depois do serviço, talvez para se acalmar... obviamente, não deu certo. Ele se senta no sofá, abre a braguilha, tira os sapatos e grita o nome da filha... Ela desse as escadas rapidamente e chega à sala. Era uma menina magra, não muito alta e loira. Usava os cabelos presos e roupas muito gastas. Não deveria ter mais que dezessete anos. "Eu quero um café!" ele disse. Ela rapidamente corre até a cozinha para preparar o café. Lilian retorna à sala com a caneca cheia e se aproxima de seu pai. As mãos trêmulas do homem tentam alcançar o café, mas sua falta de coordenação acaba derrubando a caneca de porcelana no carpete. Os cacos se espalham pelo chão ...O líquido quente acerta os pés de Mulligan, que furioso, urra de dor. Lilian dá alguns passos para trás, com o medo estampado em sua jovem face. Ela já sabe o que está por vir...
      ”Isso é culpa sua verme inútil!” O xerife cerra os punhos e acerta um soco bem no olho da filha, que cai no chão na hora, por muito pouco ela não desmaia. Quando Lilian tenta se levantar, Mulligan chuta seu estômago.A menina tenta gritar, mas a falta de ar não permite.Estirada no sobre alguns cacos e a poça de café, a pobre jovem é pisoteada e esmurrada, enquanto seu pai grita "Nem pra isso você serve!Olha a bagunça que você fez sua inútil!É pior que a sua mãe!".As palavras machucavam quase tanto quanto as pancadas.Um momento de silêncio se segue.Eles se olham por alguns segundos.O olhar de Lilian transparece medo, repulsa e muita, muita dor.Já os olhos de Mulligan, que inicialmente transbordavam fúria, aos poucos vão mudando, transparecendo um sentimento tão ardente quanto a ira que ia se esvaindo...desejo.Lilian percebe isso.O xerife olha fixamente para o corpo da filha enquanto tira a calça e debruça seu corpo sobre o dela... E então começa a arrancar suas roupas. Ela tentaria resistir, se não soubesse que se o fizesse seria pior. Quase não sobreviveu da ultima vez que resistiu. Ela até se debate um pouco, mas ele é forte demais. Mulligan dá mais um soco, agora no estômago na desafortunada Lilian para que ela pare de se mexer. Um pedaço de porcelana corta as costas da menina.Ele percorre as curvas dela com os dedos até seus seios e então os aperta violentamente.Uma lágrima desce do olho direito de Lilian, enquanto ela olha fixamente para o teto, tentando escapar disso tudo.Seus olhos agora não exibem mais nenhum medo ou dor...apenas raiva e nojo.
Eram onze e quatorze quando Mulligan saiu de casa para patrulhar. Liliam estava em seu quarto fazendo os curativos para os cortes e hematomas em seu corpo. Ela se vê no espelho... O olho esquerdo estava muito roxo, os lábios estavam inchados.Seu corpo estava coberto de cortes e marcas roxas.Lágrimas desciam pelo seu rosto, mas ela mantinha uma expressão dura.Tinha que ser forte.Mais ou menos onze e meia, ela escutou alguém batendo na porta enquanto estava deitada na cama.Era uma cidade pequena, ninguém fazia visitas naquela hora da noite, e ela não tinha muitos amigos, muito menos Mulligan...na certa, seu pai esqueceu as chaves em casa e estava trancado do lado de fora.Ela esperou imóvel na cama enquanto as batidas na porta continuavam.Queria que ele desistisse.Queria que ele fosse embora.Queria que ele sumisse de sua vida.Foi quando ela escutou um barulho forte, de algo pesado caindo no chão com muita força.O infeliz tinha derrubado a porta, e agora ia perguntar por que ela não a abriu.Com certeza ele não seria nada gentil.Foi quando uma voz desconhecida veio das escadas.

- Mulligan, nós temos assuntos a tratar... - a voz era de homem, de homem jovem para ser mais exato.

Lilian estranhou. Quem viria a essa hora da noite para falar com seu pai?Que assuntos seriam esses que não podiam ser tratados pela manhã?Na certa, nada muito bom. Amedrontada, ela se levanta da cama e tenta abrir a janela para fugir. Quando ela consegue destravar a tranca da janela, uma voz veio do canto do quarto.

- Você não parece ser o Mulligan.Pra onde está indo? - disse o homem misterioso sentado na cadeira de braço no canto do aposento. Era um homem não muito alto, com cabelos curtos e negros, trajando uma jaqueta preta.

- Como você entrou aqui? - perguntou Lilian aterrorizada, olhando para a porta fechada...e trancada.

- Faz alguma diferença? - Respondeu Rhodes, com um certo riso em sua voz.

- Quem é você? - Lilian olha pela janela...era uma queda de pelo menos quatro metros, e ela já estava muito machucada...não valeria a pena.

- Faz alguma diferença? 

- O que você quer com o Mulligan?

- Negócios a tratar...ele me enganou, eu vim tirar isso a limpo - Ele observou o olho de Lilian com atenção.Estava roxo- Foi ele que fez isso com você?

- Foi - disse Lilian com dor e vergonha em sua voz.

- Por que ele fez isso com você?

- Por que ele é um escroto depravado e sem alma! - gritou Lilian. Logo ela pôs as mãos na boca como se tentasse se calar. Ela nunca tinha falado dele assim, não na frente de outras pessoas... Muito menos para um desconhecido.Estranhamente, ela se sentia à vontade para falar isso com ele.

- Onde ele está agora? 

- Por que quer saber?

- Eu já disse, quero tirar uma situação a limpo com ele.

- Você vai matá-lo? - Perguntou Lilian, com uma naturalidade assustadora.

- Está tão óbvio assim? - Riu jovem assassino. - Não, Não...não quero matá-lo...ainda não.Você quer?
O tempo para no aposento enquanto Lilian e Rhodes se encaram...A dor nos olhos da garota se dissolve, dando lugar a outra coisa...raiva talvez?   

- Quero... - ela respondeu lentamente e com certo receio...como se tivesse dito uma palavra proibida.

- Por que você  quer matá-lo criança? - O tom de voz dele ficou sério.

- Por que ele matou minha mãe...e está me matando. - Ao falar a palavra mãe, a voz de Lilian falhou, como se ela quisesse chorar.

- Me explique isso melhor criança - disse Rhodes friamente

- Ele batia na minha mãe, fazia ela chorar sempre. Ele a magoou muito. Então, um dia... - Lilian começou a chorar - Até o dia em que ela pegou a arma dele escondida, e apontou pra ele enquanto o infeliz dormia...

Um silêncio doloroso tomou conta do quarto. Então Lilian continuou.

- Ele acordou. Ele implorou para que ela largasse a arma...disse que ia mudar, disse que ia melhorar, disse que ia parar de machucar ela... - Lilian soluçou - então ela baixou a arma e começou a chorar. O maldito sorriu e disse que sempre soube que ela não ia fazer isso. Disse que ela era fraca e inútil, e por isso ele tinha vergonha de ser casado com ela... - Lilian começou a chorar descontroladamente.

- Termine, por favor - Pediu Rhodes friamente

- Ela pegou a arma... Levou até a cabeça e puxou o gatilho. Ela sabia que não poderia mais viver assim. Ela sabia que não poderia matá-lo por que ainda o amava. Então ela - Lilian soluçou alto e se sentou abaixo da janela, com as mãos no rosto - ela se foi.Ela se matou.Ela se matou por que sabia que era a unica maneira de escapar e...

     - Ele bate em você desde então?

    - Ele faz pior que isso... - Lilian respondeu com nojo em seu tom de voz. Rhodes entendeu.

    - Ouvi o suficiente - ele se levantou - vou matar ele para você. 

O desconhecido simplesmente caminhou até a porta e a abriu, completamente insensível à dor de Lilian. Ele andou até o quarto de Mulligan, e começou a revirar o aposento, procurando por alguma coisa. Lilian o viu saindo do quarto de seu pai com uma maleta prateada.

- Já tenho tudo que precisava daqui...ele estará morto até o amanhecer...boa noite criança.

Lilian ficou observando o Rhodes sair da casa, andando calmamente pela estrada, até que a distância o fizesse sumir...



Agora são duas da madrugada. Lilian está na sala de jantar encarando a arma de seu pai. Era uma pistola preta e pequena, uma Glock 9mm.Ela sabia o que tinha que fazer, mas não sabia se tinha coragem para tanto.Ela tomou a arma em suas mãos.Tremia muito.Ela aponta a arma para a própria cabeça e toma fôlego.

- Por que você vai fazer isso? - disse uma voz fria vinda da porta da sala de jantar. O desconhecido voltou. Mesmo com o susto, Lilian não abaixa a Glock.

- Por que eu não faria? - respondeu Lilian furiosa.

- Seu pai está morto, com uma bala do tamanho de um dedo depositada no meio da cabeça. Você está vingada... Não se sente feliz? - perguntou Rhodes, curioso.

- Você não entende?Aquele verme nojento era um desgraçado desprezível, mas ainda era meu pai - Lilian soluça - encomendar a morte dele me torna tão ruim quanto ele!Eu sou um monstro!Um monstro como ele!

- Não acredita realmente nisso acredita?  - retrucou Rhodes. O silêncio novamente toma conta do ambiente por alguns momentos - Me diga... Por que você quer se matar?Não minta pra mim... Eu vou perceber.

- Eu... Eu pensei que quando ele morresse... Minha dor fosse embora. Mas não foi. O vazio continua aqui, me devorando por dentro. Não sei se consigo viver assim. Estou vingada... Não tenho amigos, família, nada. Sou sozinha, e não tenho motivos pra ficar viva. Ninguém vai sentir minha falta mesmo... - O tom de voz de Lilian era tão triste que se Rhodes fosse capaz de sentir pena, ele teria desabado.

- Humm... Eu tenho um bom motivo pra você não se matar - disse Rhodes sorrindo.

- Hã?Como ass... - a fala de Lilian foi abruptamente pelo som de um tiro. Rhodes atirou com sua arma bem no ombro de Lilian, que deixa a própria arma cair na hora, e logo depois vai ao chão, se contorcendo e urrando de dor. O chão da cozinha foi tingido de vermelho.

- Machuca pra caramba né?Tem certeza quer fazer isso na sua cabeça? - disse Rhodes apontando para a Glock.

- Seu filho da puta! - praguejou Lilian.

Rhodes pega uma toalha no armário da cozinha e pressiona contra o buraco da bala. A jovem suicida chora de tanta de dor.

- Mirei em um lugar mágico sabe... Sangra horrores, mas não tem nenhum ponto vital. Logo isso aí estanca e você pede um taxi, vai pro hospital, eles te enchem de morfina e pronto, você estará nova. - riu Rhodes.

- Seu desgraçado!Por que você atirou em mim? - Lilian não sabia se estava mais furiosa ou confusa.

- Pra você não atirar... Simples assim - a franqueza e calma na fala do homem misterioso chegava a ser cruel - Olha, eu não mato as pessoas sem motivo... - Rhodes calou-se pensativo por alguns instantes - Na verdade, às vezes eu mato sem motivo, mas não foi o caso do seu pai. Eu o matei por que eu sei que você precisava disso... Matei ele por que sabia que você precisava disso pra viver...Além disso, eu também tenho problemas com xerife, então digamos que fiquei levemente sensibilizado pelo seu caso.

Lilian fitou os olhos de Rhodes diretamente. Estranhamente, sua fúria estava indo embora. Ele estava certo.Sem Mulligan no caminho, ela finalmente poderia ter uma vida.Sem Mulligan, ela poderia ter uma vida de verdade, diferente do inferno que viveu até hoje.

- Antes que eu me esqueça - ele põe a mão no bolso e puxa cinco notas de cinqüenta dólares - isso deve cobrir o estrago da porta.

- Obrigad-do. - Lilian realmente não esperava por isso.

- Ah, o corpo do seu pai está jogado no seu quintal, se eu fosse você, daria logo um jeito nele, algum vizinho pode ver...

- O que? - perguntou atônita.

- Ah, e tem dois garotos mortos lá também... Não estavam nos meus planos, mas deu fome...

Lilian encara Rhodes horrorizada, enquanto ele simplesmente dá as costas para ela e sai andando... Ela consegue enxergar um sorriso em seus lábios enquanto o assassino se vira.

- Você não pode me deixar sozinha aqui assim!Vão pensar que eu sou a assassina!Eu vou presa, e passar o resto da minha vida trancada... É isso que você quer que aconteça comigo?

- Ossos do ofício minha jovem dama... Além disso... Você matou sei pai, viva com isso! eu terei que viver...

Lilian estava sem palavras, só conseguia pensar em matar o desgraçado. A Glock estava caída bem ao seu lado... Apesar de estar com o braço hábil inutilizado pelo tiro no ombro, ela poderia tentar com o esquerdo. Ela apanha a pistola no chão e corre atrás de Rhodes... Mas já é tarde... Ele já sumiu nas sombras, tão rápido e silencioso quanto sua chegada. Ela ajoelhou e olhou para a estrada com esperança de ainda poder avistá-lo. Logo ela enxerga uma pá jogada no canto da sala. Lilian se aproxima da pá e logo enxerga uma mensagem gravada no cabo...



"Boa sorte assassina - J.R" 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Bloody Rhodes - Conto 1 - "Noite Rubra"

  Noite chuvosa na pequena cidade de Plainville, no interior do Kansas. Era meia-noite quando os dois irmãos John e Zachary Collins voltavam para casa, depois de muita bebedeira e sexo no bordel local, em seu velho Ford F-1000. Os dois garotos aceleravam pelos limites da cidade, rindo e gritando tão alto que era possível ouvi-los a muitos metros de distância. Infelizmente para eles, o ronco incessante do motor antigo somado aos gritos histéricos acabou chamando a atenção do xerife, que por muita sorte, ou talvez azar, patrulhava as proximidades. A histeria e a alegria logo deram espaço ao pânico quando os Collins ouviram a sirene. Ao perceber a aproximação do xerife, os garotos enfiaram o pé no acelerador, na esperança de conseguir sair dessa sem levar uma multa pra casa, e isso na melhor das hipóteses. O xerife era barra pesada, e costumava pegar pesado com garotos jovens inconseqüentes. A tentativa de fuga logo foi frustrada...a lama resultante da chuva na estrada de terra fez o carro atolar depois de poucos metros.Com certeza,a sorte havia abandonado os Collins essa noite.O xerife saiu da viatura e aproximou-se com sua arma em punho.Era um homem de meia idade, careca, estava um pouco acima do peso.
- Saiam do carro com as mãos na cabeça...não me forcem a tirar vocês daí! - disse o xerife com uma voz rouca e ríspida, tentando intimidar os jovens.
Os irmãos Collins se entreolharam. Já estavam ferrados, não tinham nenhuma escolha, melhor sair para não piorar a sua situação. Saíram do carro. A chuva caindo sobre suas cabeças tornou a situação ainda mais desconfortável. O xerife ordenou que os dois deitassem na lama com as mãos na cabeça. Estava muito frio. Zachary, o mais velho, repetia incessantemente em voz baixa, como se fosse um mantra:
- Eu nunca mais vou beber...eu nunca mais vou beber...
- O que disse palhaço? - disse o xerife, puxando Zack pelos cabelos - Tá querendo me provocar mariquinha?Tá me xingando mariquinha?
- Eu não disse nada senhor...eu não disse nada!
O xerife empurrou a cabeça de Zack contra a lama com muita força.Zack quis gritar, mas sua voz era abafada pela chuva e pela lama.
-  Deixa ele em paz! - gritou John...o medo em sua voz era tão aparente e genuíno quanto sua preocupação com o irmão.
- Oh, vejam só, temos mais um corajoso aqui...quem você pensa que é miserável? - O xerife sorriu...e logo em seguida acertou um chute nas costelas de John. - Eu sou a lei por aqui...nenhum de vocês manda em mim seus bêbados de merda!
- Pára! - Gritou Zack, tentando se levantar. O xerife dá um tiro para cima. Zack se joga no chão na hora paralisado de medo.
- E muito triste pra mim ver essa juventude perdida sabe - disse o xerife com um sorriso sádico em seus lábios - Na minha época, dois garotos que aparecessem bêbados a essa hora no meio do nada, com certeza levariam uma tremenda surra...o que eu faço com vocês garotos?
Os meninos estavam amedrontados...nunca em suas jovens vidas se arrependeram tanto de ter feito uma coisa, e esse arrependimento estava estampado eu seus rostos, misturados ao medo e a lama.
 - Sabem garotos - o xerife olha para baixo e pisa na mão de John - eu sou um homem da lei...mas por baixo de toda essa imponência, eu sou só um ser humano como vocês dois...um ser humano que sente dor, arrependimento...compaixão...agora me dêem um bom motivo pra não dar uma lição de verdade em vocês agora? - O xerife aponta seu .38 para o rosto de Zack agora, que fita o cano da arma completamente petrificado.
- Primeiro por que seria abuso de poder...e segundo por que você me deve respostas Mulligan... você não vai fazer nada com eles até que eu as tenha... - diz alguém, ainda oculto na sombra das árvores. Sua voz é calma e fria.
- Quem tá aí? - diz Mulligan apontando seu revólver em direção a voz.
- Você tá apontando uma arma pra mim?Que bonitinho...você sabe que isso faz você descer muito no meu conceito não sabe Mulligan?Sabe que isso me faz gostar bem menos de você...e você sabe o que eu faço com quem eu não gosto  Mulligan? - o homem de voz fria finalmente se mostra, saindo das sombras e caminhando na direção do xerife. Era um rapaz baixo, 1,70 m no máximo, parecia ter entre dezesseis e vinte anos.Cabelos pretos e curtos.Tinha um nariz alargado para os lados e lábios relativamente grossos, seus olhos estavam cobertos por um óculos de sol.Trajava calça jeans e uma jaqueta preta.
- Rhodes? - disse Mulligan, com terror em sua voz - O que deseja aqui?Eu já lhe disse tudo que eu sabia! - o xerife parecia surpreso em ver o misterioso jovem.
- Não Mulligan...não disse...sua pista me levou a mais um beco sem saída...a uma armadilha pra ser mais exato...então Mulligan, eu só vou perguntar mais uma vez... - Rhodes correu tão rápido que pareceu deslizar. Sua mão esquerda alcançou o pescoço de Mulligan e suspendeu seu corpo, enquanto a direita sacou uma Colt Anaconda da jaqueta e pressionou o cano contra a bochecha de Mulligan.Com o susto, o xerife larga sua arma - Onde está William Ghastey?
- Eu te disse...gasp...na outra...vez - Mulligan mal conseguia respirar.Rhodes apertou seu pescoço mais forte ainda.
- Não Mulligan, você não disse...você me mandou pra uma armadilha da outra vez lembra?Você me mandou pra a morte lembra?AGORA COMEÇA A FALAR, OU EU TE MANDO PRO INFERNO AGORA MESMO!!
- Rhodes, eles pegaram minha filhinha!Se eu não te enganasse, eles iam matá-la!Por favor...eu sou um bom homem...não faça isso comig...
- Não Mulligan...eles não pegaram sua filha...passei na sua casa antes de vir aqui...e sua filha estava lá...sã e salva.Também achei a maleta com os quinze mil dólares que te pagaram pra me mandar para aquela cilada... – Rhodes apertou o pescoço ainda mais forte e arrastou a arma até o olho de Mulligan.
Mulligan gelou...sabia que não tinha escapatória agora...mentiras não iam salvá-lo, sua arma estava longe demais...apenas um milagre poderia salvá-lo agora, mas Deus não costuma intervir por seres tão desprezíveis.
- Rhodes...é...Senhor Rhodes por favor...urgh...eu não quero morr...er – suplicou Mulligan, com lágrimas nos olhos. – Eu não sei quem onde está esse tal de Ghastey...eu implor...
- Está bem então - Rhodes solta o pescoço de Mulligan. – Mas você vai me dizer quem te pagou não vai? – pediu Rhodes calmamente enquanto Mulligan recobrava o ar.
- Eu não lembro bem o nome dele...George Knight ou Dwight, eu acho...ele veio no meu escritório de repente, me disse que você ia aparecer e me disse pra te mandar para Leawood, e disse que se desse certo, eu receberia o dinheiro...é tudo que eu sei... – disse o xerife, massageando o pescoço.
- Humm...eu acredito em você – Disse Rhodes calmamente.
- Desculpe por tudo isso...eu não imaginava o que estava esperando por você em Leawood.
- Ok ok...você está perdoado Mulligan...eu acredito em você. – O jovem misterioso deu as costas e seguiu alguns passos em direção as sombras.
- Oh, quase me esqueço – Rhodes deu meia volta e começou a andar em direção de Mulligan – Eu conversei um pouco com sua filha antes de vir pra cá...boa menina, muito esperta...me contou muitas coisas sobre você e sobre sua falecida esposa...e como você é um ser humano desprezível, sobre as surras, sobre os estupros...
Mulligan entrou em pânico.Rhodes não deveria saber disso...ninguém deveria saber...e mais importante, o xerife se perguntava por que Rhodes estava dizendo tudo aquilo.
- Sua filha me pediu pra te dar um recado. – Rhodes sorriu.
- Hã..? – indagou o xerife – do que você es... – Mulligan não chegou a completar a frase. Rhodes dispara três tiros com sua arma na perna esquerda do xerife. A dor é excruciante, mas antes que possa esboçar qualquer reação, Rhodes dispara mais três tiros contra a barriga do xerife.
- Isso é pelos dezessete anos de tortura e sofrimento seu verme...com os comprimentos da sua filha.Nada pessoal Mulligan, problema seu e dela – Rhodes dispara o ultimo tiro, bem entre os olhos. Sangue e pedaços de cérebro se espalham pela estrada de terra.
- Me desculpem por terem que presenciar isso meninos, mas convenhamos que ele mereceu – disse Rhodes calmamente, fitando os irmãos Collins, que estavam imóveis observando a cena por trás do velho Ford da dupla – Não se preocupem, eu sumo com o corpo e vocês poderão seguir suas vidinhas normalmente como se nada tivesse acontecido, desde que prometam que não vão contar nossa pequena aventura pra ninguém...prometem? – a naturalidade com qual Rhodes falava tornava a situação ainda mais perturbadora. Os garotos permaneceram imóveis por cerca de oito segundos, encarando Rhodes. Nada se ouvia além do barulho da chuva. Zack e John estavam completamente aterrorizados. Essa noite com certeza ficará gravada em suas mentes para sempre.
- Ah crianças, o que aconteceu?O gato comeu suas línguas?Qual é...relaxem – Rhodes levou sua mão até o pára-choque do carro, e o empurrou com força, desatolando o veículo.Os irmãos arregalaram os olhos.Aquilo não era humanamente possível...pelo menos não com uma só mão.Rhodes pôs o corpo de Mulligan sobre suas costas, andou até perto da caçamba do carro e jogou o cadáver lá dentro.Rhodes fitou o corpo por alguns segundos, com um olhar que misturava desaprovação, satisfação e nojo, ele se dirigiu até a porta direita do carro, abriu-a e sentou no banco do motorista, empurrando Zack para perto de seu irmão – A chave, por favor. -  pediu Rhodes.Os meninos deram a chave do carro sem pestanejar -  Vamos, vou levar vocês para um bar por aqui...melhor cerveja de todo o Kansas – disse o jovem assassino com um sorriso sádico estampado em sua face...os garotos permaneceram calados – Que medo todo é esse garotos?Eu não mordo...huhuhuhuhahahahahaha... – Gargalhou Rhodes, exibindo os dois pares de caninos enormes...